23/07/2014 - Folha de S.Paulo
Por que Dunga? Tenho o hábito de tentar compreender as razões das atitudes humanas, mesmo quando as acho absurdas, ridículas, mas a escolha de Dunga me deixou perplexo, surpreso. Não entendi nada. Já a de Gilmar Rinaldi, para coordenador das seleções, dá para explicar. Ele, como informou PVC, era frequentador da Federação Paulista, dirigida por Marco Polo Del Nero, presidente eleito da CBF e que já divide o poder com Marin.
Por que Dunga? Não foi somente porque ele e Gilmar estiveram juntos na Copa de 1994. Dunga teve a aprovação de Marin e de Del Nero. O estranho é que os dois, políticos, espertos e acostumados com troca de favores, tenham escolhido um técnico rejeitado pela maioria, rude, rígido, irritadiço, que não vive atrás de boquinhas, como vários ex-atletas, e que acabou com os privilégios na seleção. Tratou mal a todos.
Por que Dunga? No campo, ele não é melhor, pior nem diferente de Felipão e de outros treinadores. É um bom técnico, padrão, com uma estatística favorável, como todos os outros da seleção, por motivos óbvios. Para Dunga, o futebol se resume a ganhar ou perder. Por isso, disse, tempos atrás, que não entendia porque o time de 1982, que perdeu, é tão elogiado. Ele nunca vai entender.
Por que Dunga? Será que Marin, Del Nero e Gilmar querem um técnico durão, que não permita tantas pessoas nos treinos nem a descida de helicópteros com celebridades para fazer entrevistas especiais? Será que eles associaram a Granja Comary com a bagunça de Weggis, na Copa de 2006, e, por isso, escolheram Dunga, novamente, para moralizar a seleção? Penso que foram duas situações diferentes. Não faltou comprometimento aos jogadores nessa Copa.
O marketing enganoso e exagerado também contribuiu para o fracasso. David Luiz é um bom exemplo. Ele se tornou um herói nacional, um fenômeno como garoto propaganda, uma mistura de anjo barroco com artista pop, antes de ser campeão. Tudo por causa de algumas boas atuações, embora tenha dado dezenas de lançamentos longos inúteis, e por seu jeito extrovertido, além de seu discurso de bom moço, preocupado com a felicidade de todos.
Ele acreditou em tudo isso. Com as ausências de Neymar e de Thiago Silva, David Luiz, além de capitão, quis ser zagueiro, armador e atacante. Suas atuações contra Alemanha e Holanda foram péssimas. Agora, entendo porque Mourinho, no Chelsea, o colocava na reserva de Gary Cahill, que tem muito menos talento.
A Seleção precisa de um técnico que una conhecimento científico com a sabedoria de um bom observador, a gana de vencer com o prazer de jogar bem, de uma maneira agradável, e que tenha independência e criatividade, sem esquecer o pensamento cartesiano. Esqueça! Tive apenas uma fantasia. Passou. A realidade é outra, triste. A realidade é Dunga. Vamos lá, Brasil!
(Tostão)
3 comentários:
Mestre Tostão sempre muito lúcido.
É verdade.
É verdade!
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