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quinta-feira, 4 de março de 2010

Morre Johnny Alf, um dos ‘pais’ da bossa nova

Cantor e compositor passava por tratamento contra um câncer na próstata.
Artista carioca tinha 80 anos e estava internado em Santo André, SP.

Do G1, em São Paulo

O músico Johnny Alf, um dos precursores da bossa nova, morreu na tarde desta quinta-feira (4), em Santo André (SP). O artista estava internado no Hospital Estadual Mário Covas, onde passava por um tratamento contra um câncer na próstata.


Segundo Nelson Valencia, empresário de Alf, o músico havia sido internado na última segunda-feira (1), quando seu estado se agravou. A doença havia sido diagnosticada há 10 anos.


“Johnny era uma pessoa muito serena e espiritualizada. Estava encarando a doença com otimismo, nunca se desesperou”, conta o empresário.


Valencia explica que mesmo após saber da doença, Alf continuou a fazer shows. “Nos últimos três anos ele deu uma parada. Mas até agosto do ano passado chegou a fazer algumas pequenas apresentações".


Segundo o empresário, o velório do artista será realizado na sexta-feira (5), na Assembleia Legislativa. A assessoria de imprensa da Casa ainda não confirma a informação. O enterro será no Cemitério do Morumbi, em São Paulo, com horário a ser definido.


Alfredo José da Silva nasceu em 19 de maio de 1929, no Rio de Janeiro, e iniciou os estudos de piano ainda criança. Na adolescência, se interessou pelo jazz e pelas músicas do cinema norte-americano. O apelido foi dado por uma amiga americana.


No início da década de 50, Alf formou seu primeiro grupo musical no Instituto Brasil-Estados Unidos. Logo depois, uniu-se a Dick Farney e Nora Ney apresentando-se na noite carioca e nas rádios. Dessa época são as composições "Estamos sós", "O que é amar", "Podem falar" e "Escuta", que apareceram no disco de Mary Gonçalves "Convite ao romance", de 1952, e ajudaram a lançar a carreira de Alf.


Em 1955, lançou "Rapaz de bem" e "O tempo e o vento" em um compacto que foi considerado o primeiro disco da bossa nova. "Chega de saudade", de João Gilberto, só apareceria três anos depois. Segundo o escritor Ruy Castro, Alf é "o verdadeiro pai da bossa nova".Tom Jobim, outro pioneiro, da bossa costumava chamálo de 'Genialf'.


Na segunda metade da década de 1950, Alf também passou a se apresentar em São Paulo, dividindo as noites com o grupo Tamba Trio, de Sérgio Mendes, Luís Carlos Vinhas e Sylvia Telles. Em 1967, apresentou a música "Eu e a brisa", uma de suas mais conhecidas, no III Festival da Música Popular Brasileira em 1967, da TV Record.


Uma das últimas apresentações de destaque do pianista aconteceu na exposição “Bossa na Oca”, em São Paulo, em 2008. Na mostra que homenageava os 50 anos do estilo musical que projetou o Brasil mundialmente, Alf teve um encontro virtual com ídolos como Tom Jobim, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald e Stan Getz. O artista tocava piano com as projeções dos colegas, já mortos, para um filme que foi exibido ao longo do evento.


“Ele ficou muito emocionado quando viu o resultado, os olhos encheram d´água”, conta o curador da exposição, Marcello Dantas. “Ele falava pouquinho, em decorrência de um derrame que havia sofrido pouco tempo antes. Mas o semblante dizia tudo, não era preciso palavras”.


Para o curador, Alf foi desvalorizado pela memória do país. “É o caso clássico do artista que não teve o reconhecimento a altura de seu talento. E Alf foi um gênio, teve participação na história da nossa música”.


 

Um comentário:

Anônimo disse...

Conheci, tanto qto se pode conhecer um gênio,
o João Alfredo. No ano passado, em maio, João fez 80 anos! Eu queria lhe cumprimentar, mas a gente vai adiando, ele se escondia, e ñ o cumprimentei. Assim, acho q ñ vim aqui, para escrever comentário algum. Vim dividir minha tristeza, q ñ está cabendo em meu peito.
Vivemos numa mesma casa, com mais 4 amigos e a mãe de um deles, em São Paulo, em meados da década de 60. Qdo tivemos q nos despedir, pois eu era obrigada a mudar-me para o Interior, Johnny me disse, q ñ queria se despedir. Que ele diria'até logo', tocando.
Sabendo, q eu adorava esta música,qdo me ouviu descer as escadas, começou a tocá-la e a cantá-la: 'The Shadow of Yours Smilles'. Sua voz embargada, denunciava seu nó na garganta, e eu chorei a mais ñ poder.E choro até hoje...
Johnny será sempre uma pessoa especial.
Uma estrela!Um brilho sem fim!
Posuia uma sensibilidade tremenda! 'Felling', como ele diria.Enchergava a nossa dor, só de nos olhar nos olhos. Sempre, nele se encontrava um amigo, q acolhia, chorava junto, e punha para dormir, contando histórias...Johnny tinha o dom de saber qual a história, q precisávamos ouvir. No piano, transformava-se: crescia, transformava-se num descomunal monstro do bem. Ouví-lo, quase todos os dias, por uns tempos, foi participar com ele, e os outros, de um ritual de magia: levitávamos. E nos emocionávamos muito! Todos tínhamos a sensação de estarmos à frente de
algo indizível...
O timbre de sua voz, seu cantar qual um jazz-man, seus improvisos,suas composições,suas releituras de outras músicas, tudo em Johnny era mágico. Eu me sentia, ñ raras vezes, fora deste Mundo, qdo ele cantava para ele mesmo, sem censuras, sem medo de julgamentos,sem roteiros,nem torcida...voava, e eu achava, q lhe seguia em seu eu vôo.
Riamos mto qdo ele tinha seus 'ataques', e incorporava aqueles cantores de New Orleans: estes seus ataques eram impagáveis!Perfeitos!
Ele entendia de jazz, como gente grande!
Tinha um sorriso largo,lindo, q distribuia... desperdiçava!Nunca vi Johnny triste. Às vezes sério,preocupado com alguém, mas triste,nunca!
Às vezes, uma lágrima, sempre por alguém, só. Johnny era um garoto brincalhão.
Moleque tímido. Alguém impossível de ñ se amar! Johnny era um homem só. Amava o amor. Amava a música. Amava os amigos.
Johnny ñ tinha família.Era filho único de uma empregada doméstica de uma família, q queria investir em seu talento, mas à maneira deles. Johnny saiu de casa, e ñ voltou mais.
'Eu e a Brisa', talvez a música de mais sucesso de Johnny tem sua história. Ele,quase sempre, fazia suas músicas sem parceiros. Fazia a melodia e a letra. E, a pedido de um amigo em comum, q iria se casar,fez 'Eu e a Brisa', para ser música tema do casamento. Era mto bonita! Mas o padre recusou-se a realizar o casamento com músicas pagãs... A gente ñ sabia como batizar música, e a música ñ foi tocada. Passados uns tempos, Johnny fez outra letra para a melodia de 'Eu e a brisa', e deu a música à Marcia, para q a cantasse e gravasse. A gravação e Márcia, até hoje é a mais conhecida. Depois, mta gente gravou esta música, q é um poema musicado, ou uma melodia poetizada.
Johnny me escreveu algumas vezes. Uma vez fui intimada e fui a São Paulo assitir a um Show, em q ele, e um outro amigo querido cantavam.
Qdo fui lhe levar meu convite de casamento, numa boate, ali perto da Maria Antonia, rimos mto. Ele ia ao piano, cantava umas 2 ou 3 músicas, e voltava à nossa mesa. Como a gente se divertiu aquele dia...
Foi um privilégio ser sua amiga.
Foi cum privilégio ele passar pela minha vida, e eu, pela dele.
Ele viverá, sempre: foi um astro! Deixou um rastro de músicas, de bem-quereres,
de exemplos, de ensinamentos, de momentos , q ele tornou emocionantes,para o público,graças aos seus talentos;para seus amigos, graças à sua imensa capacidade de amar...e de se deixar amar!
'Até logo', Johnny. A gente se encontra...
Rachel.